segunda-feira, 23 de julho de 2012

Era uma vez um vagabundo.




E agora ela chora lágrimas cinzas na sua camiseta nova.
Respira fundo incontáveis vezes, enquanto diz a ela que tudo vai ficar bem. Mas ele, na verdade, não sabe ao certo. Ela sempre vai se meter em problemas e vai voltar para casa em cacos de vidro implorando que ele venha colá-los, um a um, de volta em seu devido lugar.
Garotas não gostam de sofrer. Garotos não se importam com isso.
Mas ele se importava.
Ele disse a ela: “Princesa, o seu príncipe não virá!”
Ela não acreditou.
Deixou o vagabundo em casa e foi se encontrar com o Don Juan, que a esperava com sua armadura reluzente de ouro. Não deu outra: a maluca se apaixonou. Mas o encanto não dura pra sempre, Cinderela. E existem milhões de pés para o príncipe ver se o sapato dele serve, se é que me entende.
Então ela voltou para casa. O coração — advinha? — partido.
Encontrou o vagabundo no meio do caminho e se jogou nos braços dele. Ah, que ironia. O coração ela entrega para outros, mas os pedaços dele, esses, é ele quem junta!
Ela vai embora. Ele promete que essa é última vez que faz isso.
Se sentia como um quebra-galho, faz-tudo, que remendava todas as partes dela, deixando-a brilhante como nova, enquanto ele, o pobre vagabundo, permanecia nas sombras — chato, triste, mudo — sem ter mais seu coração.
Este ia com ela. Para onde quer que ela fosse.
Era uma vez um vagabundo. Era uma vez as aparências. Fim.



— Gabriel Saninana

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