E agora ela chora
lágrimas cinzas na sua camiseta nova.
Respira fundo
incontáveis vezes, enquanto diz a ela que tudo vai ficar bem. Mas
ele, na verdade, não sabe ao certo. Ela sempre vai se meter em
problemas e vai voltar para casa em cacos de vidro implorando que ele
venha colá-los, um a um, de volta em seu devido lugar.
Garotas não gostam de
sofrer. Garotos não se importam com isso.
Mas ele se
importava.
Ele disse a ela:
“Princesa, o seu príncipe não virá!”
Ela não acreditou.
Deixou o vagabundo
em casa e foi se encontrar com o Don Juan, que a esperava com sua
armadura reluzente de ouro. Não deu outra: a maluca se apaixonou.
Mas o encanto não dura pra sempre, Cinderela. E existem milhões de
pés para o príncipe ver se o sapato dele serve, se é que me
entende.
Então ela voltou para
casa. O coração — advinha? — partido.
Encontrou o vagabundo
no meio do caminho e se jogou nos braços dele. Ah, que ironia. O
coração ela entrega para outros, mas os pedaços dele, esses, é
ele quem junta!
Ela vai embora. Ele
promete que essa é última vez que faz isso.
Se sentia como um
quebra-galho, faz-tudo, que remendava todas as partes dela,
deixando-a brilhante como nova, enquanto ele, o pobre vagabundo,
permanecia nas sombras — chato, triste, mudo — sem ter mais seu
coração.
Este ia com ela. Para
onde quer que ela fosse.
Era uma vez um
vagabundo. Era uma vez as aparências. Fim.
— Gabriel Saninana
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